[ Hunter Island ] - Hummingbird e Kio

Tuth estava ficando fraco, mesmo que fosse algo contra a realidade. Ele é um tipo Venenoso e está levando danos grandes, como se fossem efetivos, de um ataque do mesmo tipo. Onde está a lógica disso?!
Mas ainda assim não pude fazer nada, tinha que ficar quieto e recuar meu Pokémon e curá-lo, deixando o ataque novamente para Enzo que ainda seguia firme com sua Beedrill, percebia-se que mesmo com uma aparência frágil de inseto ela era bastante forte e ágil, uma verdadeira lutadora.
– Tuth, venha para cá um pouco! – Ele não estava assim tão longe e com seus grandes saltos não demorou a vir. Peguei na mochila um tipo de poção e espirrei sobre o seu pequeno corpo roxo, tomando cuidado para não acertar seus olhos com o líquido, já que eram grandes e vermelhos, tomando uma grande parte da frente de seu corpo. – Agora vai ficar melhor, me desculpe por deixá-lo se machucar tanto.
Quando me levantei e observei novamente o campo, Seviper havia mergulhado entre a lama, se camuflando. Um Pokémon esperto, porém não era o bastante. Olhei novamente os dados de Tuth na Pokédex e procurei algo que nos ajudasse. Desta vez foi algo muito útil. Descobri que ele pode usar seus olhos como um radar, localizando alvos e itens até certa quantia de metros.
– Tuth use seus olhos e localize Seviper no meio de toda essa lama e em seguida indique onde ele está para Beedrill seguir atacando! – Falei enquanto apontava para alguns poucos rastros que sobraram na água onde Seviper jogou a lama para as margens.
Não estava tão confiante como antes que isso poderia vir a acertar, contudo era uma das poucas chances de localizar aquele oponente sem que tivesse de esperar ele aparecer, provavelmente dando um “bote” em Venonat ou Beedrill.

A cobra esgueirava-se naquela água asquerosa que misturada ao lodo tornava o ambiente mais que propício para a habitação de pokémons como Seviper, e era nada mais que compreensível que ela usasse daquilo em prol de sua vitória, pena para o Venonat de Kiory e a Beedrill de Enzo que tinham de combater naquele terreno. Cada segundo que se passava com Seviper submersa era um momento de tensão, a cada segundo se imaginava um bote e isso era de certo torturante, mas o tempo seria muito bem aproveitado por Kiory que chamava Venonat junto a si para curar-lhe, dando-lhe uma poção, essa ardia ao ser usada nos ferimentos, mas o resultado era rápido e aquele pokémon que mostrava bastante enfraquecido tinha suas forças restabelecidas, mas Kiory não se detinha nisto, usando a informação recém adquirida da Pokédex o garoto usa de seus olhos para localizar a Seviper. De nada adiantou, ou na verdade não foi preciso, a cobra revelou-se por trás de Kiory e quase acertando o garoto ao invés de Venonat ao usar o Bite e aplicar uma forte mordida tentando mais uma vez abocanhar o inseto, para aquela bola de pelos roxa aquele certamente não era um local seguro, sorte que mesmo sem intenção houve um salvador - por assim dizer. Suzumebachi, o Beedrill de Enzo, obedecendo às ordens de seus donos acerta Seviper com um forte X-Scissor fazendo a cobra perder - novamente - sua refeição.

Infelicidade não era exatamente o que a cobra, era uma fúria acompanhada da decepção por ter perdido seu alimento que rendia aos pokémons inimigos a redução de suas defesas com o Screech. A cobra ameaçava com todas as suas armas e ao contrário do que diz o ditado esta mordia também, não só ladrava, mas, bem... ela não era um cachorro...

O radar realmente foi uma boa escolha, mas aquela serpente ridícula nos ajudou, aparecendo atrás de mim e me atacando. E com a ótima sorte dela, já foi quase derrotada por Beedrill, mostrando que realmente estávamos formando uma dupla. Já estava me irritando novamente com esses Pokémon ridículos, ficam me atacando como animais idiotas! Saudades dos que tinham lá na minha terra, deveria ter ficado por lá!
– Tuth, hora de acabar com isso! – Venonat agora já estava melhor, apesar de ainda ter parte de sua energia retirada, porém já era o suficiente para acabar logo com aquele Pokémon. E eu não queria continuar muito mais tempo ali, atacaria com tudo agora. – Saia saltando por ai novamente, indo a direções opostas a de Beedrill, mas não se distancie, somente toma outra direção para “cercar” o Seviper e então o ataque com Confusion!
Não me restava muito que fazer, a não ser lançar um único ataque. Era visível que Seviper estava prestes a cair de exaustão a qualquer momento e não prolongaria aquela batalha mais ainda. Também precisava me acalmar, novamente não queria sair como um louco na frente de Enzo, o que ele pensaria de mim se acontecer isso?

A Seviper estremecia, já não possuia tanta força para aplicar mesmo que seja um golpe sequer, mas seus oponentes não estavam em situação tão diferente, ao menos o Venonat de Kiory que agora, após ter sua defesa reduzida duas vezes, corria sérios riscos de ser derrotado com um último e traiçoeiro ataque, e a cobra tentaria, e como tentaria, Venonat naquele momento era sua presa e não desistiria, a cobra numa investida final partiu de boca aberta procurando finalmente engolir Venonat e agora não teria Beedrill que impedisse seu impeto de predador, no entanto a cobra não contou com o ataque de Venonat, um forte - e super efetivo - Confusion que jogou a cobra contra o chão, impedindo sua trajetória, foi um típico caso em que a presa superou o predador com, evidentemente, ajuda de Suzumebachi, após isso a cobra afundou naquela espeça lama, havia voltado para seu habitat, mas por ali não ficaria muito tempo, uma hora ou outra a cobra acordaria e caso ambos os treinadores não saíssem dali com prontidão seriam novamente atacados, os treinadores teriam de sair fugidos.

Apesar de tudo admite-se que dupla parecia se entrosar melhor, mesmo tendo sido colocados contra sua própria vontade ali o trabalho em equipe crescia e até mesmo já colaboravam um com o outro, as personalidades fortes de cada um tinham sido vencidas e haviam passado por dois diferentes desafios, um seguido do outro e agora poderiam -teriam - prosseguir, saindo assim do local que se encontravam, porém só possuíam duas opções viáveis: à sua frente onde havia uma grama de proporções medianas que poderiam cobrir suas pernas todas ou à direita onde havia lama, muita lama mesmo junto de muito mais musgo que já encontraram, andar ali não seria a coisa mais fácil, mas ao menos não estariam completamente afundados.

Depois de tanto sofrimento finalmente Tuth obteve um sucesso e ótimas recompensas, como um novo ataque aprendido em seu repertório, e que será muito útil no futuro. Abaixei-me para ficar a uma altura mais próxima dele e o acariciei, enquanto falava sobre como tinha ido bem contra um inimigo muito mais forte. Venonat estava tornando-se um melhor guerreiro a cada dia que passava. Mesmo assim, não podia depender somente dele. Levantei-me novamente, olhando para Seviper que sumia lentamente em meio a lama e pensando em quais outros Pokémon muito mais forte poderiam surgir, precisava treinar os outros também.
– Você fez um ótimo trabalho Tuth, agora vamos dar chance a outro para batalhar. – Retornei o pequeno inseto para sua respectiva Poké Ball e o observei pelo local semitransparente da parte vermelha da esfera. Ele não estava muito feliz, gostava de batalhar, mas não agiu contra mim, apoiou minha decisão e repousou-se lá, descansando até ser chamado novamente. Em seguida peguei outra Poké Ball, desta vez a de Slow, que mesmo com toda a sua lerdeza também era um ótimo parceiro. – Slow, saia! A partir de agora será você quem me ajudará contra futuros oponentes.
Peguei o Pokémon rosada em meu colo e o segurei como se fosse um simples Pokémon doméstico. Sabia que seu raciocínio não era dos mais rápidos e poderia ficar para trás ou se perder em meio ao local, que por sinal era imenso.

Enzo agora voltava a falar comigo, estava mais descontraído, talvez por termos começado a nos darmos bem em meio a batalha, mas eu ainda não confiava totalmente nele e não queria falar muito, como sempre, para mim bastava somente algumas palavras quando necessário e nada mais. Ouvi tudo o que ele tinha a dizer e realmente queria se tornar meu amigo. Deixei aquilo passar, não dei muita atenção, o garoto também nem ligou muito, somente começou a me arrastar para um tipo de gramado, onde a vegetação se tornava mais alta e densa, chegando ao meio de minha perna.
– De novo ter que andar por um lugar onde mal posso me mover... – Retruquei a mim mesmo.
Porém era melhor do que ficar ali, entre o lodo e me sujar todo, pois na grama é evidente ter algumas espécies mais dóceis que se escondem.

De forma completamente perceptível e certamente consciente ambos os treinadores foram conduzidos para um melhor, porém mais "ardiloso" terreno onde ataques poderiam ser disparados sem que os treinadores não tomassem sequer conhecimento, mas era mais trafegável, o que agilizava a movimentação dos garotos. Mais à frente já era possível ver até mesmo o começo de uma floresta onde o terreno parecia ainda melhor, para quem estava literalmente na lama era uma utopia a ser buscada, mas antes pareciam ter um novo - e último - desafio, mas qual seria exatamente? Aquele pequeno pokémon todo sujo fazendo uma expressão de "coitadinho" era o tudo o que impedia sua passagem.

Ao menos desta vez os garotos tinham sorte, não havia aparecido um pokémon agressivo que lhes atacaria sem mesmo um aviso prévio, o pokémon parecia - na verdade - como adoentado, mostrava-se fraco e vulnerável, esticava seus longos "braços" e sobrepunha um ao outro envolvendo-se naquilo enquanto estremecia, além do mais o pokémon apresentava um odor incrivelmente forte que fazia os garotos prenderem a respiração, o único na verdade que parecia escapar era Slowpoke que nem sequer entendia, era o lesado de sempre! Mas os garotos agora tinha de tomar uma decisão do que fazer com aquele estranho - e fedorento - pokémon.

Enzo ainda tagarelava sem parar, falando cada vez mais sobre ele, seu passado, coisas que estavam a nossa volta. Já estava quase desistindo de ignorar aquilo para fazer algo que o deixasse quieto, mas como sempre, não queria passar uma má impressão para quem estivesse perto de mim. Segurei-me e continuei andando em meio a aquela imensidão de grama alta, andando com passos largos e tortuosos, sendo difícil mover meus pés como se estivesse em uma estrada normal.
O garoto me olhava algumas vezes, como se me analisasse, observando meu corpo e principalmente minha expressão séria. Simplesmente suspirei fundo e continuei em meio a aquela caminhada tediosa, pensando que tipo de Pokémon poderia encontrar ali. Algumas vezes chegava até mesmo a acariciar Slow em sua cabeça, mesmo que ele não demonstrasse gostar ou odiar aquele “carinho” em sua pele rosa e lisa.
Com o tempo um odor ruim surgiu ao ar, de imediato percebi ser algum Pokémon, talvez até mesmo uma armadilha de um. Coloquei Slow sobre minha cabeça, apoiando suas pernas em meus ombros enquanto ele observava tudo do alto. Não é a melhor das idéias, admito, mas precisava de minhas mãos livres. Peguei minha Pokédex novamente e segui para onde parecia estar com um odor mais forte, apontando o visor do aparelho para vários objetos, pensando que poderiam vir a ser alguma espécie camuflada.
– Parece que chegamos ao foco desse cheiro ruim. – Falei baixo para Slow, como se Enzo nem estivesse ali, me acompanhando. – Aparenta ser mesmo um Pokémon e também está ferido...
Voltei a pensar comigo mesmo naquele momento, imaginando que poderia ser um tipo de armadilha, onde outros Pokémon como aquele surgiriam para atacar ou ele realmente estava ferido de algum tipo de combate e precisava de ajuda. Estava indeciso sobre o que fazer, os riscos eram grandes e eu não poderia cair em uma armadilha, não com uma equipe de nível mediano como a minha.
Estava revirando minha mochila, procurando algum tipo de mapa ou item que me ajudasse, indicando que tipos de criaturas vivem ali, mas logo fui interrompido por Enzo que seguiu atacando com sua Beedrill, a Suzumebachi.
– Por acaso você é idiota? – Gritei por impulso. – Isso pode ser muito bem uma armadilha, temos que ter cuidado. Slow use Yawn nesse Pokémon fedorento para prevenir que não aconteça nada ruim por enquanto!

O garoto apelidado Hummingbird, Enzo, parecia psicologicamente diferente, estaria sendo afetado pela ilha? A questão era que o garoto que até agora pareceu bastante infantil tomava uma decisão bastante precipitada - como se esperava -, porém também incrivelmente fria, acabaria de vez com o adversário, faria dos braços de Beedrill a arma do crime, ali escorreria o "sangue" do pokémon, isso se seu companheiro, Kiory, não o impedisse. Era agora mais que nunca tarde de mais, duas sombras pareciam saltar da grama, uma delas atingindo Beedrill que já havia recuado um pouco, a outra parecia somente passar para confundir e no meio de toda a confusão aquele pokémon desaparecia tendo apenas Beedrill vendo o último ataque, um Acid Spray que lhe atingiu precisamente. Ambos os treinadores estavam distraidos com suas próprias coisas, Kiory, o mais sério, não dava tanta atenção às sombras como Enzo deu, porém estava ocupado em pegar sua pokédex. Tudo acontecia muito rapidamente e aquele pokémon aparentemente enfraquecido se mostrava completamente apto aquela batalha, na verdade estava a fugir fazendo com que se balançasse  a grama e sem mais nem menos fizesse de tudo uma calmaria como se nada acontecesse, mas ainda antes disso Kiory - que havia perdido uma parte crucial - conseguia usar de sua Pokédex para identificar o oponente, apesar de seu pokémon não ter tido nem sequer a chance do ataque.


A situação havia mudado completamente em pouquíssimos segundos, tanto para os treinadores que simplemente relaxavam e encontravam-se em posição privilegiada em relação ao pokémon que encontravam quanto para Trubbish, o pokémon que aparentemente estava mal havia magicamente melhorado, ou talvez para este último nada havia mudado, talvez apenas seus planos que haviam sofrido alguns desvios. Os garotos não davam sorte mesmo, após enfrentar dois terríveis pokémons seguido de um outro igualmente terrível teriam de lidar desta vez com três, e o problema deles não parava somente aí pois antes teriam de encontrá-los e atraí-los, mas de certa forma mereciam após não ajudarem o pobre Trubbish tendo tentado destruíndo, ou na verdade aconteceria o mesmo? Não importava, aquele havia sido o rumo no destino o qual teriam escolhido e encarariam as consequências!