[DESCRIÇÃO] - Centro Pokémon

VIRIDIAN

Já começava a anoitecer quando finalmente chegamos em Viridian. Não houveram mais obstáculos que pudessem atrapalhar nosso caminho no final da rota mas, mesmo assim, tomamos cuidado e ficamos atentos à ruídos.

Apesar da tranquilidade, não conversamos nesse pouco tempo. Rick parecia querer manter silêncio, apenas me lançando breves olhares de esgueira, parecendo me avaliar, o que eu respeitei.

Na verdade, também não estava muito afim de conversar. Talvez minha tentativa de ajudá-lo tenha sido infeliz por eu não ter levado em consideração o fato de que ele havia acabado de passar por coisas horríveis, que poderiam dar um nó na cabeça de qualquer um, mas isso não diminuía o fato de que eu não havia gostado em nada da forma como me tratara, afinal, se ele não estava mais passando por uma situação difícil era graças ao fato de eu ter aparecido na vida dele.

Claro que ele também me ajudou, mas se não fosse eu, pra começo de conversa, ele ainda estaria sendo abusado pelos outros escravos de Aracnea, o que não o dava razão para tratar-me daquela forma.

- Acho melhor irmos direto para o PokéCenter - disse, parando e olhando para os lados, tentando encontrar o caminho que levava para o tal prédio - Meus pokémons estão cansados e ainda temos um longo caminho até Pewter, então melhor passarmos a noite aqui e descansarmos, enquanto cuidam de Treecko e Krabby.

- Ok. - respondeu o loiro, apenas, logo começando a seguir pela trilha - É por aqui.

Me apressei para alcançá-lo e seguimos rápido pela cidade rural. Claro que ele seria um guia bem melhor do que eu, afinal, pelo que eu conhecia dele, devia ser natural de Kanto, diferentemente de mim, que vim de um continente bem distante.

Quando entramos no PokéCenter, tomei a frente e fui até o balcão, logo me dirigindo à atendente.

- Boa noite, gostaria que cuidasse de meus pokémons. - digo, logo lhe passando mas pokéballs de Treeko e de Krabby - E também queremos um quarto com duas camas para passarmos a noite, por favor.

A garota acenou positivamente com a cabeça, logo recolhendo minhas pokéballs em uma bandeja e levando-os para uma salinha atrás. Em menos de um minuto, volta de lá com uma chave, essa contendo uma etiqueta pendurada, com o número quatro escrito na mesma, a qual me alcançou.

- Subindo as escadas, por ali. - disse, apontando para o extremo do salão de entrada. - Todos os quartos possuem banheiros com toalhas limpas, caso queiram tomar banho e... - então deu uma olhadela de cima a baixo para o corpo semi-nu de Rick, corando - lá também podem encontrar roupas que oferecemos aos viajantes que perderam seus pertences.

Já estava há tanto tempo com Rick que havia me habituado ao fato do mesmo estar apenas de cueca, de forma que por alguns instantes estranhei a reação da garota, antes de finalmente entender e quase rir. Agradeci e seguimos rapidamente escada acima, logo entrando no quarto que nos fora oferecido.

Como solicitado, o mesmo possuía duas camas, dispostas uma de cada lado de uma grande janela. Havia uma porta na parede à esquerda da entrada, que levava obviamente ao banheiro, no qual Rick rapidamente entrou, enquanto eu colocava minha mochila ao lado de uma das camas. Não me importei com a pressa dele. Até onde eu sabia, ele estava sem banho muuuito tempo mais do que eu e, sinceramente, estava precisando.

Sentei no parapeito da janela e fiquei olhando para a rua, enquanto esperava que meu companheiro saísse de seu banho. Pelo vidro, pude avistar alguns pokémons voadores, provavelmente procurando por comida ou recolhendo-se para seus ninhos. Pude reconhecer alguns que também habitavam a região de Sinnoh. Era bastante interessante como Kanto, nos últimos anos, havia se tornado morada para espécies de pokémons que habitavam todos os outros continentes. Essa notícia fora um fator decisivo para que eu escolhesse essa região para iniciar minha jornada. Mais ao longe pude avistar alguns lagos, nos quais pude notar leves ondulações, que indicavam a movimentação dos pokémons aquáticos que viviam ali. Em suas margens e próximos às arvores espalhadas pela cidade pude notar alguns pokémons, os quais não conseguia identificar, dada a distância. Enquanto pensava se valia a pena pegar minha PokéDex para testar se a distância não a impediria de identificar os pokémons, Rick finalmente saiu de seu banho, limpo e cheiroso, enrolado em uma toalha branca e felpuda.

- Desculpe ter ido na frente sem falar nada, mas eu estava com saudade de um banho de verdade. - disse o loiro, enquanto segurava em suas mãos o que julguei ser um jogo de roupas, completamente brancas - Pode ir agora, se quiser. Deve estar querendo se lavar, depois de tudo... - disse, e então olhou para baixo e se dirigiu à outra cama, colocando as roupas no chão ao lado e começando a mexer nas cobertas à esmo.

- Não se preocupe. Imaginei que estava precisando, mesmo e, de qualquer forma, deixaria que tomasse primeiro. - respondi e, como não foi dito mais nada e Rick desenrolou-se de sua toalha e preparou-se para deitar, entrei no banheiro.

O lugar era todo branco. O piso, azulejos brancos. As paredes, plaquetas brancas. Até o teto era branco. Não sei se era apenas esse quarto ou se todos eram assim, mas aposto como era mais fácil identificar sujeira num ambiente assim. Enquanto me despia, pude notar que havia uma ranhura de metal com uma maçaneta na parere e, em cima, uma plaquinha "Coloque aqui suas roupas sujas". Sem pensar duas vezes, coloquei as minhas ali, imaginando que seriam lavadas. Caso eu não pudesse recuperá-las, sabia que poderia pegar novas roupas brancas do PokéCenter, mesmo, da mesma forma que Rick, então fui tomar meu banho, tranquilamente.

Quando saí do banheiro, apenas o abajur ao lado da minha cama estava aceso, para que eu conseguisse me guiar pelo quarto. Rick estava deitado de lado em sua cama, virado para o outro lado, provavelmente dormindo. Pendurei a toalha em um suporte e fui até minha cama lentamente, cuidando para não fazer barulho e acordá-lo, então deitei e apaguei a luz do abajur. Quando virava para o lado, me preparando para dormir, pude ouvir de leve uma movimentação na outra cama, bem como a voz de Rick.

- Se seus pokémons estavam fracos, porque deu aquela Oran Berry para aquele pokémon selvagem?

Virei-me de volta para seu lado e pude ver, pela lus do luar que entrava pela janela, os claros olhos do rapaz me encarando.

- Porque já estávamos chegando na cidade. Não queria capturar aquele pokémon e, se deixasse ele ali, daquela forma, poderia acabar morto. - respondi, simplesmente.

Pude ver Rick franzindo o cenho e logo voltando a me questionar, em tom acusador.

- Porque tem essa prepotência de achar que deve proteger a todos, e que ninguém sabe se virar sozinho?

Fiquei um pouco chocado com aquela pergunta. Ele aparentemente estava retomando o assunto no qual paramos mais cedo e que havia me deixado irritado. Agora, no entanto, eu estava relaxado, de banho tomado e bastante confortável, então não queria discussões, de forma que achei que responder o que ele me perguntava, com sinceridade, era o melhor a se fazer.

- Não acho que devo proteger a tudo e a todos. - disse, virando para cima e começando a olhar para o teto - Eu apenas tento ajudar à quem precisa. Eu podia ajudar aquele pokémon e sabia que, se não o fizesse, não dormiria bem essa noite, imaginando que ele poderia ter virado comida de aranha, da mesma forma que não pude deixar de trazê-lo comigo. Não fiz simplesmente porque tenho que te proteger ou porque acho que tenho, mas porque, assim como eu, você estava disposto a lutar pela liberdade. Tínhamos o mesmo objetivo, então porque não nos unirmos?

Houve um tempo de silêncio, no qual apenas nossas respirações podiam ser ouvidas, antes de eu continuar.

- Sabe... Em Sinnoh também tivemos problemas com uma gangue criminosa que estava causando o caos. Eu era pequeno quando aconteceu, mas inda tenho lembranças.

"Eram tempos bastante perigosos. Os membros da Equipe Galactic espalhavam sua influência por todo o continente. Até mesmo um lago eles explodiram. Mesmo assim, as pessoas se uniram. Aprendemos a ajudar àqueles que precisavam, pois sozinhos não eramos ninguém. Pelo que contam as histórias, foi justamente a união do povo, que convergiu em três heróis, que comoveu os três duendes lendários e os impeliu a dar um fim ao plano do Galactics."

Fiquei em silêncio mais alguns momentos, e então virei-me para o rapaz, que me olhava.

- Não sei como as coisas funcionam aqui em Kanto. Sei que a guerra pela qual vocês passaram foi, de longe, muito pior do que qualquer coisa que Sinnoh já testemunhou nas ultimas décadas mas... de onde venho, aprendemos que somos fortes unidos.

Rick desviou o olhar e ficou olhando para o chao abaixo da minha cama. Parecia ter ficado sem saber como responder o fato de eu ter começado a falar um pouco da minha infância do nada, mas logo foi tomado pela curiosidade e voltou a me olhar.

- Você perdeu alguém importante durante a crise em Sinnoh? - perguntou.

- Durante a crise... não. - disse, sendo tomado por um desânimo. Então me virei para o outro lado e deitei minha cabeça no travesseiro, antes de responder - Mas após ela perdi a pessoa que me era mais importante, e nunca vou me perdoar por ter permitido que isso acontecesse.

Com isso, simplesmente paramos de falar, e logo dormimos.


No outro dia de manha, acordamos com excelente humor. Minhas roupas estavam me esperando, limpinhas, na frente da porta do quarto, e eu logo às vesti. Descemos e tomamos um bom café da manhã, logo depois de eu ter pego meus pokémons no balcão. Quando estávamos satisfeitos, saímos do PokéCenter, para darmos algumas voltas pela cidade, antes de seguirmos viagem.